As fraudes mais comuns com produtos financeiros

A evolução digital abriu espaço para fraudes. Esquemas Ponzi, criptoativos, cursos de investimento, publicidade enganosa e propostas duvidosas são riscos.
20 Ago, 2023
Actualização: 7 Mai, 2024

A evolução digital trouxe uma série de facilidades à nossa vida, incluindo no setor financeiro. No entanto, essa mesma evolução abriu portas para esquemas fraudulentos que ameaçam o nosso património e segurança financeira.

Conhecer os sinais de alerta e manter-se informado é essencial para não cair em armadilhas.

Esquemas Ponzi, Pirâmide ou Marketing Multinível

Estes esquemas são baseados na promessa de juros acima da média do mercado e na necessidade de recrutar novos membros para manter o sistema. No início, os envolvidos recebem os valores prometidos, o que fortalece a confiança no esquema, mas, a longo prazo, é insustentável, e muitos acabam por perder o dinheiro investido.

Plataformas de criptoativos

Embora as criptomoedas tenham ganho muita notoriedade nos últimos anos, a sua volatilidade e natureza especulativa tornam-nas um investimento arriscado. Além disso, muitas plataformas não possuem a regulamentação necessária, o que potencia o risco de fraudes.

Venda de cursos de investimento

Existem inúmeros cursos que prometem o segredo para o sucesso financeiro. No entanto, muitos deles cobram altos valores por informações que estão disponíveis gratuitamente online.

Publicidade a criptoativos

Influencers estão a usar a sua popularidade para promover criptoativos. O caso de Kim Kardashian, que foi penalizada em 1,26 milhões de dólares por promover a Ethereum Max no Instagram, é um exemplo claro dos riscos associados a esta prática.

Propostas de investimento duvidosas

São propostas que prometem altos retornos em investimentos como Forex, opções binárias ou criptomoedas. Muitas vezes, o dinheiro investido não é sequer aplicado, indo diretamente para os bolsos dos fraudadores.

Cuidados com o crédito fácil em tempos pós-pandemia

A situação financeira de inúmeras famílias em Portugal e pelo mundo afora tem-se agravado devido aos efeitos da pandemia. A procura de soluções emergenciais para lidar com despesas tornou-se comum, seja devido ao layoff, desemprego, ou outras razões. Porém, é justamente nesse cenário que esquemas fraudulentos ganham terreno, atraídos pelo desespero dos consumidores.

A promessa de crédito rápido e fácil é uma das armadilhas mais comuns, especialmente em tempos de crise. Muitos fraudadores promovem liquidez imediata em troca de taxas de juro extremamente altas ou condições desfavoráveis.

Além do peso dessas taxas, há casos onde se exige a transferência da propriedade de bens, como uma casa, como garantia, mas com promessas enganosas de que o proprietário poderá continuar a habitar o imóvel e retomá-lo após o reembolso do empréstimo. No entanto, um simples deslize, como um incumprimento, pode resultar na perda definitiva do imóvel.

O Banco de Portugal tem alertado frequentemente sobre entidades não autorizadas que atuam como financiadores. Estas entidades muitas vezes utilizam meios de comunicação como jornais, redes sociais e panfletos, para alcançar potenciais vítimas. Um dos principais sinais de alerta é a cobrança de comissões para avaliação de um pedido de crédito, prática que é ilegal.

É igualmente importante desconfiar de promessas como “dinheiro fácil” ou “sem burocracias”, e nunca se deve compartilhar dados pessoais ou bancários em resposta a propostas duvidosas.

Para além das entidades fraudulentas, o problema estende-se a intermediários de crédito, que, apesar de não fornecerem o crédito diretamente, atuam como mediadores entre os clientes e as instituições financeiras. Estes, sejam individuais ou coletivos, precisam de autorização e registo no Banco de Portugal. Os mais populares incluem stands de automóveis, lojas de eletrodomésticos e imobiliárias.

Portanto, antes de negociar com qualquer entidade de concessão de crédito ou intermediário, é crucial verificar sua legitimidade. O Banco de Portugal oferece uma lista de entidades registadas e autorizadas.

Em caso de dúvida, entrar em contato diretamente com o regulador é sempre a melhor opção.

Em resumo, a necessidade pode tornar-se um terreno fértil para fraudes. Assim, é essencial manter-se informado, desconfiar de propostas muito vantajosas e sempre verificar a legitimidade de entidades financeiras e intermediários. Proteger-se proativamente é o caminho mais seguro em direção à estabilidade financeira.

Dicas para identificar fraudes financeiras

A pressão para tomar decisões rápidas, a falta de informações claras, promessas de retornos elevados com baixo risco e a ausência de autorização de entidades como a CMVM ou o Banco de Portugal são sinais claros de potenciais fraudes.

Em resumo:

  • Pressão para decisões rápidas alegando ser a “última oportunidade”;
  • Uso de português incorreto, falta de dados ou informações claras;
  • Entidades não autorizadas pela CMVM ou Banco de Portugal;
  • Preferência por transações em dinheiro vivo ou criptomoedas para evitar rastreio;
  • Promessas de rendimentos elevados com baixo risco;
  • Explicações vagas sobre o produto ou investimento.

Técnicas de cibercrime

O Relatório Anual de Segurança Interna de 2021 mostrou um aumento nos crimes online, principalmente fraudes e códigos maliciosos. Para quem possui criptomoedas, é importante estar ciente de práticas como phishing, pharming e spyware.

No contexto atual, o Banco de Portugal mostra-se preocupado com a literacia financeira digital dos portugueses. Segundo um estudo da OCDE, 8% dos portugueses que utilizam a internet já foram vítimas de fraude. A falta de conhecimento sobre esquemas fraudulentos online é alarmante, visto que apenas 45% dos inquiridos reconhecem phishing e pharming como tais.

A “Estratégia de Literacia Financeira Digital” lançada pelo Banco de Portugal, em parceria com a OCDE e Comissão Europeia, visa abordar esses desafios. Esta estratégia foca na sensibilização da população sobre a importância da literacia financeira digital, com medidas como a criação de um canal no YouTube e ampliação do portal do Cliente Bancário.

Como agir em caso de suspeita de fraude?

Se suspeitar que está a ser vítima de uma fraude, é essencial entrar em contacto com o Banco de Portugal. Além disso, deve reportar a situação às autoridades competentes, seja PSP, GNR, Polícia Judiciária ou Ministério Público.

Concluindo, manter-se informado e alerta é crucial para proteger-se de fraudes financeiras. Investir em literacia financeira digital é um passo essencial para garantir uma navegação segura e transações financeiras protegidas.

João Neves
Com mais de quatro anos de experiência em investimentos, decidi que era altura de poder partilhar os conhecimentos e experiência que adquiri nas áreas da bolsa de valores, das criptomoedas, do mercado forex, dos produtos financeiros e até do mercado imobiliário.