Mineração de criptomoedas: consequências para o meio ambiente

O impacto ambiental causado pela mineração de criptomoedas é elevado, uma vez que é através desta que os utilizadores validam as transações na blockchain.
20 Ago, 2023
Actualização: 7 Mai, 2024

Nos últimos anos, as transações financeiras têm evoluído significativamente e novas modalidades de pagamento surgiram, como o pagamento por aplicação móvel ou através de criptomoedas. Ao contrário da moeda convencional, a criptomoeda é um ativo unicamente digital, que escapa à supervisão dos bancos centrais e não segue os princípios da política monetária. Estes ativos virtuais assentam numa tecnologia denominada blockchain, isto é, num sistema virtual de registo de transações, que se destaca pela sua segurança, celeridade e transparência.

Apesar de a criptomoeda ser considerada a divisa do futuro, não podemos esquecer-nos que o seu aparecimento originou também preocupações relacionadas com o impacto ambiental gerado pelo processo de mineração. A mineração de criptomoedas é o processo pelo qual novas unidades destes ativos são extraídas e as transações são validadas. Este processo exige uma quantia considerável de energia e, por isso, implica a utilização de computadores de elevado desempenho para a resolução de problemas matemáticos complexos.

Neste sentido, iremos aprofundar um pouco mais a forma como as criptomoedas podem contribuir para a deterioração do meio ambiente.

Que gastos energéticos resultam da mineração de criptomoedas?

Calcular a quantidade exata de energia gasta na mineração de criptomoedas pode ser um desafio, mas pode-se estimar um valor com base na hash rate (poder computacional que contribui para a mineração de criptomoedas) e do consumo feito pelas plataformas de mineração existentes no mercado. Segundo o índice que mede o consumo de eletricidade na mineração de criptomoedas (CBECI), estima-se que a extração de bitcoins gaste cerca de 153 terawatts de energia anualmente, o que é comparável ao consumo de energia de países como a Ucrânia (134,3 terawatts) e a Malásia (150,8 terawatts).

Além disso, a mineração de outras criptomoedas também consome uma quantidade significativa de energia. De acordo com o site Digiconomist, a Ethereum, segunda maior rede de criptomoedas do mundo, gastou aproximadamente 94 terawatts de energia num ano. No entanto, desde a última grande atualização efetuada nesta rede, os requisitos de energia elétrica caíram significativamente, com uma transação da Ethereum agora a exigir apenas 0,03 kilowatts.

Importa lembrar que o consumo de energia decorrente da mineração de criptomoedas pode variar ao longo do tempo, principalmente devido à variação de preços e ao interesse por parte dos utilizadores. Como a mineração de criptomoedas é uma atividade competitiva, um aumento no valor da recompensa incentiva mais mineradores a entrar na rede, o que, por sua vez, leva a um aumento no consumo de energia pelas redes criptográficas.

O impacto ambiental da mineração de criptomoedas

O impacto ambiental da mineração de criptomoedas está relacionado com o consumo de energia. A maior parte da energia utilizada na mineração de criptomoedas ainda provém de fontes não renováveis, como o carvão e o petróleo bruto. Estima-se que a rede Bitcoin seja responsável por cerca de 73 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o que equivale às emissões de gases de efeito estufa do Turquemenistão. Da mesma forma, a mineração da Ethereum produziu aproximadamente 35,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono antes da atualização da rede.

Além disso, a mineração de criptomoedas origina uma pegada de carbono maior em países onde o consumo de energia é mais elevado. Segundo um estudo realizado na Universidade de Cambridge, os Estados Unidos, a China e o Cazaquistão são os países onde o consumo de energia na mineração de criptomoedas é maior. Para piorar a situação, esses países são fortemente dependentes de combustíveis fósseis, o que torna a mineração de criptomoedas ainda mais prejudicial para o meio ambiente.

Como se não bastasse, a extração de criptomoedas também gera lixo eletrónico (e-waste). Isto deve-se ao hardware utilizado na mineração, que rapidamente se torna obsoleto. Esta situação é ainda mais comum com os mineradores ASIC (Application-Specific Integrated Circuit), plataformas de mineração que são fabricadas com o intuito de minerar criptomoedas. Segundo o Digiconomist, a rede Bitcoin gera aproximadamente 61 mil toneladas de lixo eletrónico anualmente.

O futuro das criptomoedas e a redução do consumo de energia

Embora a mineração de criptomoedas consuma atualmente uma quantidade significativa de energia, tem-se encetado uma série de esforços para reduzir o seu impacto ambiental. Uma abordagem promissora é a adoção do método proof-of-stake (PoS), que não requer tanto poder computacional quanto o método atual, conhecido como proof-of-work (PoW). No PoS, a validação das transações e a operação da rede são concedidas com base na quantidade de criptomoedas mantidas por um validador.

Outros métodos de validação também estão a ser desenvolvidos, com base em fatores como o histórico e o tempo decorrido. Embora a comunidade do Bitcoin ainda não tenha adotado essas mudanças, a redução do consumo de energia na mineração de criptomoedas é um objetivo que deverá ser atingido nos próximos anos.

Considerações finais

A mineração de criptomoedas tem um impacto significativo no meio ambiente devido ao consumo de energia, emissões de gases de efeito estufa e geração de lixo eletrónico. Embora a tecnologia blockchain e as criptomoedas sejam consideradas avanços tecnológicos, é importante considerar os aspectos ambientais associados ao funcionamento destas redes.

A redução do consumo de energia na mineração de criptomoedas é um objetivo que ainda está longe de ser atingido, mas existem formas realistas de o alcançar. À medida que a conscientização sobre o impacto ambiental das criptomoedas aumenta, é importante que a indústria e os utilizadores trabalhem juntos para encontrar soluções sustentáveis que sejam implementadas nos processos de produção destes ativos digitais.

João Neves
Com mais de quatro anos de experiência em investimentos, decidi que era altura de poder partilhar os conhecimentos e experiência que adquiri nas áreas da bolsa de valores, das criptomoedas, do mercado forex, dos produtos financeiros e até do mercado imobiliário.