O movimento FIRE (Financial Independence, Retire Early, ou, em português, Independência Financeira, Reforma Antecipada) ganhou destaque nos últimos anos como uma forma de alcançar a independência financeira e a reforma antecipada. Mas, para muitos, esse objetivo pode parecer inatingível, especialmente se tivermos em conta a inflação que a Europa atravessa e, consequentemente, a situação económica e financeira do nosso país.
O que é o movimento FIRE?
O movimento FIRE surgiu nos Estados Unidos na década de 90, com a publicação da obra “O Dinheiro ou a Vida” de Vicki Robin e Joe Dominguez. Os autores sugeriram um programa de nove passos que visa ajudar as pessoas a transformar a sua relação com o dinheiro e a atingir a independência financeira, ou seja, possuírem rendimentos passivos suficientes que lhes permita decidir se querem continuar a trabalhar ou não.
O FIRE baseia-se numa mudança de mentalidade, onde o foco é valorizar o tempo e a liberdade e não ter de trabalhar por dinheiro. O movimento foi impulsionado por bloggers que partilharam as suas experiências e estratégias de poupança, despertando a atenção de muitas pessoas que constituem a geração millennial e que procuram uma forma de se reformarem antecipadamente.
O que significa e como posso ser financeiramente independente?
Ser uma pessoa financeiramente independente significa ter liberdade para escolher o que fazer com o seu tempo, sem a preocupação de ter de trabalhar para ganhar dinheiro. Isso pode ser visto de diferentes maneiras, como por exemplo mudar de profissão, tirar um período sabático, querer mudar de vida, dedicar-se a atividades não remuneradas ou viajar pelo mundo sem se preocupar com a falta de um salário.
A regra dos 4%
Para alcançar a independência financeira, é necessário quantificar o objetivo que se pretende alcançar, ou seja, o valor de riqueza pretendido. Para isso, existe uma fórmula, utilizada por muitos seguidores do FIRE: a regra dos 4%.
Esta regra foi estudada por três professores de finanças da Universidade Trinity, no Texas (Estados Unidos), nos anos 90. O objetivo era determinar a percentagem do património líquido que pode ser gasta de forma sustentável numa reforma tradicional, assegurando que não existe risco de ficar sem capital e tendo em conta a taxa de inflação.
Para calcular essa percentagem, deve-se multiplicar o total das despesas fixas anuais por 25. Por exemplo, se as suas despesas fixas anuais são de 20 000€, terá de poupar 500 000€ para alcançar a independência financeira e se reformar antecipadamente.
Definir um bom plano é essencial
Se tem vontade de fazer parte deste movimento, saiba que é possível. Terá, no entanto, de definir um bom plano e contemplar algumas alterações no seu estilo de vida.
Existem três aspetos fundamentais nos quais se deverá focar:
- Desenvolver a literacia financeira: este passo é fundamental para atingir a independência financeira. Isso significa aprender e dominar os principais conceitos das finanças pessoais. Importa perceber quais são os pilares da independência financeira e qual o seu perfil de investidor, mas também conhecer as estratégias utilizadas por outras pessoas que já atingiram a sua liberdade e os conselhos que podem dar a quem inicia agora esta jornada;
- Poupar o melhor que conseguir: a mudança de mentalidade passa ainda por redirecionar o foco e alterar o estilo de vida. Tudo é feito com o objetivo de atingir o valor necessário para a independência financeira. Por isso, é preciso um esforço grande a curto e médio prazo. Se quiser aumentar as suas poupanças, deve eliminar despesas supérfluas do seu dia a dia (jantar fora, utilizar o carro, subscrever serviços de entretenimento, partilhar casa em vez de morar sozinho, entre outros); reduzir o orçamento familiar ao mínimo; e ponderar mudar-se para um sítio onde o custo de vida seja mais baixo;
- Investir: Conseguido o valor necessário para o seu fundo de emergência, o passo seguinte é “colocar o dinheiro a trabalhar para si”, ou seja, capitalizar as suas poupanças através de investimentos, usufruindo do poder do juro composto.
Desta forma conseguirá, não só ir aumentando o valor do seu património, mas também começará a criar rendimentos passivos, os quais, por sua vez, podem ser reinvestidos. Lembre-se de diversificar, sempre que possível, o seu portefólio de investimentos (imobiliário, bolsa, PPR’s, criptomoedas, plataformas de crowdfunding, entre outros).
Em quanto tempo poderei atingir a independência financeira
O tempo para atingir a independência financeira depende de 2 variáveis essenciais, a percentagem de poupança/investimento vs estilo de vida. É muito importante manter o estilo de vida à medida que ganha mais dinheiro. É tudo uma questão de percentagens, se aumentar os gastos à medida que ganha mais, o rácio poupança/gasto será o mesmo, não havendo evolução na taxa de poupança.
Investir durante todo o processo e poupar para o fundo de emergência
À medida que poupa mais dinheiro, deve colocar uma percentagem de parte até atingir o objectivo do seu fundo de emergência. O valor deste objectivo é recomendado que seja o total de todas as suas despesas mensais multiplicado por 3-6 vezes. O restante deve investir num ETF ou em ações individuais.
Planeamento, esforço e dedicação
Como já mencionámos, o movimento FIRE é uma forma de alcançar a independência financeira e a reforma antecipada que envolve sacrifício e até mesmo a mudança do estilo de vida. Para atingir esse objetivo, é necessário desenvolver a literacia financeira, poupar e investir de forma inteligente. Com o tempo, essas estratégias podem ser aperfeiçoadas e permitir-lhe-ão alcançar a independência financeira que certamente ambiciona. Nunca se esqueça que este objetivo exige planeamento, esforço e dedicação, mas terá os seus frutos a longo prazo.